"Não tem nada de sincero no Doria", diz Márcio França

Márcio França acredita que o problema poderia ter sido remediado já na entrada do vírus no Brasil

O ex-governador criticou a postura de João Doria (PSDB) à frente do governo do Estado de São Paulo
30 de Março de 2021 - 09h52

O ex-governador de São Paulo, Márcio França (PSB), atribuiu a crise sanitária e econômica em São Paulo à falta de experiência dos governantes. “Outros exemplos do mundo que deram certo no combate à pandemia foram de governos que conseguiram juntar as pessoas, não afastá-las. Aqui nós demos azar. Pegamos ao mesmo tempo vários governantes sem experiência, cada um do seu jeito. Ao mesmo tempo, um governador querendo ser candidato a presidente, um prefeito que ficou doente, enfim, uma série de situações que atrapalharam bastante, junto com um presidente que nunca havia governado nada”, opinou o político, em entrevista ao Jornal da Manhã. São Paulo é o Estado mais afetado pela pandemia do coronavírus no Brasil. No momento, registra 2.370.885 casos e 69.503 óbitos pela Covid-19.

Márcio França acredita que o problema poderia ter sido remediado já na entrada do vírus no Brasil. “Se lembrarmos que aqui no Brasil toda a pandemia entrou por um único espaço físico, que foi o aeroporto de Cumbica, era evidente que todo mundo que tinha experiência sabia que deveria ter sido feito um bloqueio por Cumbica”, aponta. Para ele, a situação foi maximizada quando o país decidiu realizar o Carnaval 2020 e as eleições municipais. “Claro que não adianta voltar no tempo. No tempo, era bem simples. Fechava o aeroporto de Cumbica e fazia uma quarentena para todo mundo que viesse de fora. Nós teríamos diminuído muito não fazendo Carnaval, adiando as eleições municipais. Fizemos tudo errado como passageiros de primeira viagem”, analisou. “Os governadores levaram muitos meses para fazer isso. Passou praticamente um ano. Erraram e acertaram, foram e voltaram. Em relação a medidas de trânsito, enfiaram mais gente nos mesmos ônibus, lotaram os ônibus e não conseguiram fazer nada muito criativo. Portanto, assim, se o centro da pandemia no mundo é o Brasil, o centro da pandemia no Brasil é São Paulo.”

O ex-governador criticou a postura de João Doria (PSDB) à frente do governo do Estado de São Paulo. “Isso claro que reflete um pouco dessa inexperiência. Uma briga que fizeram, misturando política eleitoral do futuro parar tentar faturar em cima da pandemia”, analisou. França afirmou que a condução da crise por Doria não foi boa. “Acho tudo errado. Acho que eles deviam espaçar as aberturas dos comércios. Como que uma pessoa vai ficar dois, três meses, sem poder vender nada para ninguém? Isso acaba sendo uma lei que as pessoas não cumprem”, disse. “Tudo que o Doria faz, não tem nada de sincero. Quando ele quer, ele segue as orientações do Comitê, mas, normalmente, ele não faz nada disso. Ele não faz isso por mal, é a profissão ele, ele é um organizador de eventos, é o que ele sabe fazer: anunciar, ficar ali como mestre de cerimônias”, criticou. Segundo França, não há profundidade nas decisões do governador. “No fundo, ele faz para meio que se livrar da imprensa, chamar atenção, mas nada fica sincero. E fica pior se você voltar no tempo e lembrar que ele cortou recursos e investimentos em ciência e tecnologia em São Paulo, recursos esses que poderíamos estar sendo usados para produzirmos vacinas agora. Mas, agora, ele está agarrado no Instituo Butantan. Ele vai tentar manter a vida dele agarrada ao Butantan, assim como fez com Bolsodoria”.

Medidas futuras para o combate à pandemia
Márcio França defende que a crise deve ser pensada em duas frentes: ajuda financeira e combate à fome. “Nós temos que tentar amenizar. A primeira coisa é evitar a fome. As pessoas topam fazer lockdown, ficarem paradas, mas desde que tenha algum tipo de renda. A renda que tem hoje não dá, não é suficiente. O governo do Estado e as prefeituras tem que contribuir. Se o governo federal está dando 150, 200, as prefeituras e os governos do Estado podem complementar a renda com cartão que fosse utilizado apenas no bairro da pessoa beneficiada para ela se deslocar mesmo”, sugeriu. Ele afirma que o dinheiro poderia ser obtido pela antecipação de impostos. “Eu tenho sugerido uma ideia que é a antecipação de impostos para quem tem algum tipo de dinheiro guardado, que não é muita gente, mas é bastante dinheiro. Podíamos antecipar, por meio de lei, o IPTU e IPVA de 2022, 2023, para agora, com desconto, para as pessoas terem alguma vantagem sobre isso. Mas e lá na frente não vai faltar? Vai faltar, mas a vantagem é que o momento mais grave é agora, nos próximos meses”, afirmou.

“Ninguém é contra fazer as restrições, o problema é que está todo mundo percebendo que não está tendo efeito suficiente. As pessoas não tem uma contrapartida, nem sequer de isenção tributária. Não é crível, não é lógico que você aumente impostos no meio de uma pandemia”, completou. Para França, sem dúvidas a pandemia será a questão central para as eleições 2022. “As consequências virão muito maiores, porque toda a parte econômica ainda virá pela frente, as pessoas que fecharam os seus comércios, os empregos perdidos que não serão recuperados. Eu não tenho dúvida de que será central. O debate de 2022 será a pandemia”, apontou. “E a pergunta que todo mundo vai querer saber é o seguinte: por que que você não fez?”, concluiu.