Saiba tudo sobre o filme La La Land Cantando Estações

Musical pode ser tortura. Mas este é encanto, enlevo e melancolia

Musical pode ser tortura. Mas este é encanto, enlevo e melancolia
17 de Janeiro de 2017 - 10h34

Por Isabela Boscov - Veja.com.br

Em geral, detesto musicais; acho que eles são uma forma socialmente aceita de tortura (e Moulin Rouge é o meu Abu Ghraib). Um número ou outro, ainda vai. Debbie Reynolds, Donald O’Connor e Gene Kelly arrasando em Good Morning, em Cantando na Chuva? Uma graça. Fred Astaire dançando com Ginger Rogers ou com Rita Hayworth? Sempre lindo. A abertura de Amor, Sublime Amor? Moderna e vigorosa. Mas ponha em torno dessas cenas um filme estufado de coreografia e cantoria e, em 99 de cada 100 casos, eu preferiria ter passado aquelas duas horas quebrando paralelepípedo embaixo do sol. Mas, às vezes (bem poucas), um musical me pega inteiro. E La La Land, que neste momento é o favorito inconteste ao Oscar, me pegou de jeito.

Não é que eu tenha saído do cinema arrebatada, como tanta gente. Mas saí encantada, enlevada, melancólica. Saí, também, irmanada com o diretor Damien Chazelle nos sentimentos sobre Los Angeles – uma cidade que promete tanto, mas que parte corações e é tão difícil domar. Não é como Nova York, onde as pessoas partem para a conquista. Los Angeles é arisca, fugidia. Tem tanto sol, festa e promessa de sucesso que demora ao sonhador perceber que está apenas rodeado dessas coisas, sem fazer parte delas. E demora mais ainda até ele se dar conta de que as suas chances de fazer parte disso são infinitesimais; em geral, a constatação do fracasso só vem tarde demais. Los Angeles acrescenta ofensa à injúria: não só a pessoa naufraga, como se sente humilhada por ter se iludida. E, quando acerta, o acerto vem com uma carga esmagadora de expectativa, competitividade e perda pessoal. Para pertencer a esse mundo, é preciso abrir mão de todos os outros mundos a que se pertenceu antes.

Esse é o tema de La La Land: dar certo, nesse meio, custa caro. Conseguir uma coisa quase sempre implica desistir de outra, igualmente importante. Mas é na maneira como Damien Chazelle filma que ele crava o alvo. Em 2013, aos 28 anos, Chazelle emplacou uma estreia de altíssima voltagem com Whiplash, em que a medida do sucesso era interna – a perfeição que o baterista de jazz interpretado por Miles Teller almeja, e que o professor vivido por J.K. Simmons exige. Whiplash deu a Chazelle uma medida de sucesso interna e também externa: a forma como ele casa as cadências da música à estrutura da trama é irrepreensível, e a crítica foi quase unânime nos elogios – e também a bilheteria foi notável para uma produção independente feita por minúsculos 3 milhões de dólares. Whiplash abriu as portas para Chazelle, e finalmente ele conseguiu que ouvissem sua ideia para La La Land. No qual, novamente, a música (sobretudo o jazz) dita o compasso da história.